quarta-feira, 29 de junho de 2011

Transporte mais caro em Santa Maria, menos debate na RBS


O artigo a seguir é uma colaboração especial de Bibiano Girard e Liana Coll*
Na última segunda-feira (27), o Jornal do Almoço, da RBS TV de Santa Maria, anunciava uma chamada para matéria e seção de esclarecimentos ao vivo no programa. A pauta: transporte coletivo. As questões: os porquês do aumento da passagem para R$2,30, recém aprovado, e a integração das linhas. Tema de interesse público em um dos programas mais assistidos da cidade. Belo exemplo de comprometimento jornalístico, não fosse a forma como o assunto foi encarado e abordado.
Uma enquete introduzia a questão. Nas ruas, moradores questionavam sobre as melhorias que deveriam ser realizadas no transporte, prometidas desde que as autoridades municipais aprovaram o aumento do ano passado, quando a passagem aumentou de R$2,00 para R$2,20.
A medida tomada pelo Conselho de Transporte Público da cidade era paliativa, já que a população sabia que o aumento para R$2,30 seria inevitável, visto que as empresas, na época, já pediam a atualização do valor da tarifa para o preço atual. O prefeito Cezar Schirmer (PMDB) aprovou o primeiro aumento, deixou passar alguns meses para o assunto “esfriar” e na véspera do feriado de Corpus Christi, depois das 21 horas de quarta-feira, sancionou o novo valor. Assim, o número de manifestações e de manifestantes nas ruas diminuiria consideravelmente, já que Santa Maria tem uma população flutuante de aproximadas 30 mil pessoas, ou seja, 10% dos habitantes sairiam da cidade durante o feriado. Quando esta afluência de pessoas voltou na segunda-feira, o novo valor já estava adesivado nos ônibus de toda a cidade.
Pois bem. Ao vivo, no dia 27 passado, no estúdio do jornal da RBS, estavam presentes o Secretário de Mobilidade Urbana de Santa Maria, Marcelo Bisogno, e o presidente da Associação dos Transportadores Públicos (ATP), Luis Fernando Maffini. Pluralidade de vozes, como anuncia a velha mídia? Nenhuma. Os questionamentos públicos apareciam em forma de gravações. Ao vivo, não foi convidado nenhum integrante do Movimento Nacional pela Moradia ou o Movimento Estudantil da cidade, principais grupos organizados contrários ao aumento, além de 84% da população que disse não perceber mudanças no transporte após os aumentos da passagem. Quando o secretário e o presidente da ATP se manifestavam, lançando muitas vezes informações contraditórias e falsas, a voz pública não tinha vez em se pronunciar e as verdades (incompatíveis com a realidade) das autoridades eram transmitidas como palavras finais.
A lei ordena que a cada 10 anos seja aberta licitação para a contratação de empresas de transporte público, porém, em Santa Maria o processo não ocorre há décadas. A principal desculpa da prefeitura baseia-se na falta de um Plano de Mobilidade Urbana. Assim, o prefeito afirmou que enquanto o Plano de Mobilidade Urbana não for concebido, providências serão tomadas no sentido de ir alterando o transporte enquanto a cidade não tiver o Plano.
Multiplicidade de vozes é o que não se vê na RBS de Santa Maria, assim como em muitas das grandes emissoras. Quem continua sendo a principal fonte do telejornal são as autoridades. O povo, os movimentos sociais e os estudiosos que comprovaram há anos que o valor cobrado é calculado de forma unilateral, nem sequer puderam falar ao vivo no telejornal.
Em 2006, quando foi apresentada uma proposta de aumento no valor das passagens pelo prefeito da época, Valdeci Oliveira (PT), um professor da Universidade Federal de Santa Maria contestou o aumento apresentando uma planilha que demonstrava a unilateralidade dos preços: as planilhas apresentadas à prefeitura são confeccionadas pelas próprias empresas de transporte da cidade. E ainda assim o Jornal do Almoço, ciente de tal autocracia, parcialidade e conivência da prefeitura com as empresas de ônibus teve receio em criar realmente um debate em seus estúdios.
*Bibiano Girard e Liana Coll são estudantes de jornalismo na UFSM e integrantes da redação da Revista O Viés.

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